Ichiban.













Estamos sempre a tempo. De rever. De fazer diferente. De pensar de outra maneira. E, muito importante, de dar uma segunda ou terceira ou quarta hipótese. As vezes que acharmos necessárias. A nós. Aos outros. Ao que for. Neste caso, tratava-se de tentar rever um ponto de vista de há dez anos atrás. Pus-me a pensar que, em dez anos, mudamos tanto. E que era redutor ficar-me por uma primeira impressão. Não sou assim em tantos domínios, por que é que seria em relação a comida? Sushi. Sashimi. Reacção imediata às palavras: não gosto. Quis ver se era mesmo assim, dez anos depois.
Creio que um ocidental fica sempre um bocadinho "à porta", em relação à cultura oriental. Mesmo que se leia muito. Mesmo que num momento qualquer se aprenda o que se conseguir. Os sons das palavras. A filosofia do caminho das flores. A estética e os rituais. Sempre gostei de tantas declinações do país onde nasce o sol. Há anos que penso que um dia ganho coragem e vou até ao outro lado do mundo. Tóquio. Quioto. Num final de tarde, descobri que o Japão podia acontecer no Porto. Bem perto do mar. Bem perto de um lugar onde o sol desaparece todos os dias. A altura mais bonita para ir ao Ichiban, parece-me. Bem antes de o sol desaparecer à frente dos nossos olhos. E não se fica "à porta", ali. Envolvidos, afinal. Integrados. Por causa do lugar. Que não obedece ao imaginário previsível. Por causa das pessoas e da tranquilidade com que nos acolhem. Por causa da comida. Servida em cerâmicas que dão vontade de reproduzir o ritual vezes sem conta. E assim, a única coisa que fica à porta é o frenesim incompreensível que se vive, por estes dias. Que fique, o tal frenesim. Embora pense persistentemente que as nossas "elites" é que deveriam ficar à porta. Não merecem. O capital humano. A força que vive no esforço colectivo de todos os dias. Não merecem que haja pessoas capazes de, ainda assim, abrirem um restaurante. Como este das imagens. Do texto. Da minha memória partilhada.  


11 comentários:

  1. Sim, Mar estamos sempre a tempo de mudar, de dar uma nova oportunidade, à vida, às pessoas, aos desafios e até à comida. Já sabes que por aqui é das nossas preferências. Aliás, o sashimi tem sido opção nestas noites mais quentes e a L. escolheu para almoçar no aniversário, o japonês de Coimbra. Ela e a irmã, as únicas crianças no restaurante, e apesar de já toda a gente estar familiarizada com a comida japonesa, ainda se supreendem com meninas de 4 e 7 anos de pauzinhos a comer todo o sushi e sashimi que conseguem.
    Bom ver esse espaço pelos teus olhos. Quem sabe na próxima ida aos avós almocemos por lá.
    Um abraço,
    Guida

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  2. Olá Guida:

    Lembrei-me de ti/de vocês:) Gostas destas coisas. E de ostras. Uma das razões para rever o meu ponto, relativamente à comida japonesa, teve a ver com o meu filho. Queria que ele experimentasse, a ver se gostava. Não ficou fã. Mas é bastante competente com os pauzinhos:)
    E gostei deste lugar. Já não digo aquele "não gosto" taxativo, irredutível. É bom dar oportunidades. E é igualmente importante saber quando é para deixar de dar oportunidades. A aprendizagem que me é mais difícil.

    Um abraço grande.

    Mar

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  3. Olá José Maria:

    Muito obrigada pela visita. E pelo comentário. E é simples, este lugar. Mesmo muito.
    Obrigada também pelo convite. Lerei, certamente. A expressão escrita é livre. Assim como disse. Independente de tudo o que amarra.

    Um abraço para si. E um mundo de coisas boas aí para o outro lado do Oceano. Tenho uma ligação inquebrável com o seu país. E um mar de saudades.

    Mar

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  4. É como diz, devemos dar oportunidade ao que achamos que vale a pena. Vamos mudando com o passar dos anos e a nossa perspetiva acerca das coisas também muda.
    Eu aprecio sushi deste que provei mas há outras comidas que não gostava e agora já como. É bom dar oportunidade!
    Um beijinho para si neste dia especial.
    Graça

    P.S. Fiz aquela maionese com os cournichons. Viciante, sem dúvida. Obrigada.

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  5. Olá minha Mar.

    Hoje, no teu dia, fui almoçar com o meu Zé num japonês do Porto que também é muito de ir. Kyoto na Baixa, um nome tão bonito, não achas? Fizemos um brinde a ti com um chá verde gelado chamado "a Dama das Camélias". O Ichiban está também na lista. Inscrito logo depois da tua mensagem a dizeres que "era para ir". Como sabes, a minha mãe foi logo a seguir ;) Gosto que não sejas irredutível. Porque uma segunda oportunidade todos merecem. Até o sushi ;)

    Beijo de Parabéns!

    Babette

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  6. Estivemos em sintonia Mar! Esta semana, com o melhor peixe aqui ao lado, saiu um jantar de sushi. Gosto do ritual, da comida, do conceito mas tenho pena por já me ter sentido defraudada nuns quantos restaurantes... Numa próxima visita ao Porto, quem sabe não aceito a tua fantástica sugestão!
    Beijinhos!

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  7. Olá Graça,

    Sim. No fundo, tratava-se de não ficar com um ponto de vista cristalizado. Irredutível. Não é mesmo uma possibilidade de que goste sem reservas, mas já não é como costumava ser.
    Obrigada por se ter lembrado do tal dia especial. Foi um dia lindo. E muito quente:)
    Essa maionese é um pecado. Toda a gente que prova não consegue resistir a mais:)

    Um beijo.

    Mar

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  8. Olá Babette:

    Obrigada pelo brinde com um chá gelado e romântico, a propósito do dia 8. Hei-de ir a Kyoto, um dia. E ao Kyoto no Porto também:)
    Gostei muito do Ichiban. E sei que tenho vontade de voltar. Bom, quando se guarda essa vontade. Pode ser que nos encontremos por lá.
    E sim, oportunidades. Até para o sushi:)

    Um beijo.

    Mar

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  9. Olá Vera:

    Lindo, isso da sintonia:) Percebo essa parte de se ser defraudada. Este universo presta-se um pouco a episódios desses, parece-me. Mas imagino-te a gostar deste lugar. A ver se sim.
    Mas o bom mesmo, é estares a aproveitar os teus dias de sol:) Que continues com esse espírito solar.

    Um beijo.

    Mar

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  10. Gosto muito de sushi. Mais ainda de sashimi. O meu marido nem por isso. A última vez que comi comida japonesa foi em Matosinhos, num restaurante com um ar de loft, de cujo nome não me recordo (talvez por ser japonês ;). Quem sabe da próxima não vou ao Ichiban? Pelas fotos e descrição, parece valer a pena.
    Um beijo,
    Ilídia

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  11. Olá Ilídia:

    Quem sabe? Quando voltares aqui, pode ser uma das possibilidades. Foi uma boa terceira, quarta ou quinta hipótese, esta:) Vês como acabei por pôr de lado aquelas minhas questões e ir? Ainda bem que sim, mesmo que me recuse à parte do gengibre nas transições:)

    Um beijo.

    Mar

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